five words in orange neon

Eu tava no serviço, como de costume quando aconteceu.
O Pedro, o cara que fica duas mesas depois da minha na empresa, não me parecia bem. O rotineiro mau-humor matinal foi substituído por uma cara pálida e de enjôo, como se tivesse comido algo podre na noite anterior. Nem dei bola, quando tava com dor de barriga certa vez e pedi uma aspirina pra ele, respondeu-me com cara amarrada “Não tenho”, sendo que eu sabia que o pai dele é dono de uma farmácia e ele sempre andava com certa quantidade de remédios naquela mala encourada falsificada dele.

Ele foi ao bebedouro umas cinco vezes. Olhava todo desconfiado para os lados, mas ninguém nem ligava, todos estavam ocupados de mais com suas tarefas pra perceber que o Pedro passava mal. Mas eu, de esguelha, percebia tudinho.

Foi ao banheiro umas quinhentas vezes. E, como todos, estava ansioso pela hora do almoço. 12:00! Todos saíram, e quando terminei de digitar meu relatório, lá tava ele... caído no chão, feito uma pedra... Olhei pra todos os lados... Não havia mais ninguém no saguão... Todos correram para o refeitório... Era dia de Churrasco com Frango à Passarinho... Não resisti, fui ao refeitório, enchi meu prato, coloquei salada, purê, feijão... Tudo que estava ao meu alcance. Degustei cada colherada! Meu deus do céu, que delicia! Não sabia se era o cansaço ou a fome. Quando voltei, o Pedro ainda estava lá! “Meu Deus, ninguém vai fazer nada?!” pensei. Olhei para os meus parceiros de serviço. Todos pareciam ignorar o Pedro esparramado no chão. Era impossível não percebê-lo ali. Comecei a me preocupar... Fui ao bebedouro, depois ao banheiro... Quando voltei, ele estava menos pálido, estava em outra posição no chão e havia uma poça d’água ao lado dele... Fui correndo ao computador entrei no messenger e mudei meu Nick para “Gente, o Pedro ta passando mal, tá caído no chão, mijado!” fiquei online, offline, online, offline, online, offline... Ninguém se importou. Ninguém! Tenho certeza que todos viram a plaquinha subindo e descendo e ninguém fez nada gente, NADA!

O Pedro passou três dias lá, sem ninguém fazer nada.