five words in orange neon

É surpreendente o quanto a rotina nos deixa tapados.
Tipo:
Hoje eu ando por uma rua, vejo uma senhora passeando com um cahorro, vejo um cara lavando um carro e uma escultura monumental, amanhã eu vejo a mesma senhora passeando com o mesmíssimo cachorro, um cara lavando um carro (o modelo já ficando antigo) e uma escultura monumental... E depois de amanhã eu com certeza, verei as mesmas coisas e perderei o interesse.
Chegarei ao ponto de ignorar tais pessoas e objetos dando o mínimo de atenção possivel, mesmo quando pisar no cocô do cachorro da senhora ou for um pouco molhado pela água da mangueira do cara distraido lavando seu carro. E isso as vezes despertará interesse por parte de alguém que assiste... E aí, a pessoa fica simplismente fascinada por tais coisas que eu vejo todo dia. A mulher cega que sempre anda guiada pelo cachorro... E a irresponsabilidade do cara que lava o carro todos os dias gastando litros e litros d'água, e veja aquela escultura monumental!!...
Será que ninguém dá conta do que ocorre bem debaixo do próprio nariz nesses dias rotineiros?
Tantas vezes passei pela senhora de idade e nunca percebi que era cega... E o cara desleixado da mangueira... Nunca dei uma lição nele... E a escultura? Dá pra acreditar que um dia não foi pichada e mal cuidada?
Eu passando por tudo isso todos os dias... E nunca havia percebido nada... Nunca...


Ps: A história criada é fictícia. Nunca encontrei senhora cega com cachorro e nem homem com mangueira. Porém, a escultura da foto abaixo me despertou interesse para essa criação.


Esculturas de Gêsso. UFMA.